23 de agosto de 2018
Matt Lambert é um artista britânico de quem somos fãs há muito tempo. Anteriormente, falamos com ele sobre o seu trabalho e a sua exposição anterior, numa entrevista que pode ler aqui. Agora, tem uma nova exposição, de 25 de agosto a 2 de setembro, em Brighton. Se não conseguir visitar a exposição, também pode ver e comprar obras suas no leilão que decorre em simultâneo com a exposição. Está na altura de falar com o Matt!
Parabéns pela sua nova exposição! Pode falar-nos um pouco sobre a sua nova coleção?
O título da exposição é VIEW, um título oportunamente vago que acho que engloba os temas da coleção: diferentes pontos de vista, as posições que assumimos e que resultam do que vemos/de quando vemos as coisas e a imagem que temos de nós próprios. Parte do trabalho é uma expansão de temas anteriores, nomeadamente das minhas séries infantis Lucha e Superhero que exploram máscaras e identidade. Uma parte é totalmente nova; a minha série Observations está relacionada com a forma como diferentes pessoas veem as obras de arte em galerias e o trabalho “Off curriculum” sobre tacos de críquete reflete a mudança da minha visão sobre o Império Britânico ao longo dos anos.
De que forma mudou a sua visão sobre o Império Britânico?
Na escola não aprendi nada sobre o Império Britânico. Para mim “Império” significava “os maus” do Star Wars. Estava totalmente consciente dos aspetos positivos da história britânica, mas desconhecia o lado negro do nosso passado colonial. Um discurso de Shashi Tharoor, na Oxford Union, durante um debate sobre o impacto do imperialismo dos nascimentos na Índia despertou a minha consciência para esta questão.
Julgo que não estou sozinho na minha ignorância. Num inquérito recente do YouGov, 59% dos britânicos consideravam o Império Britânico como motivo de orgulho. Na verdade as nossas maiores honras são o CBE, OBE e MBE (Comandante/Oficial/Membro do Império Britânico). Não tenho, nem de longe, qualificações para avaliar os aspetos positivos e negativos do Império Britânico, mas o que é certamente verdadeiro é que não falamos de forma suficientemente aberta sobre os últimos. Diz-se generalizadamente que “levamos o críquete para a Índia” e foi isto que me inspirou a utilizar os tacos de críquete como suporte, representando Oficiais do Império Britânico com capacetes de outros Impérios considerados menos promissores.
Duas pinturas de Matt Lambert da série “Off curriculum”
De que forma mudou o seu trabalho desde a sua última exposição a solo, em 2017?
Espero que tenha melhorado!” Este ano queria realmente desafiar-me a nível técnico. Sinto-me, de um modo geral, atraído por cores vibrantes e grandes contrastes de luz e sombra. Mas, neste trabalho queria também centrar a minha atenção nas subtilezas da cor e dos tons, mas também nas nuances da linguagem corporal, tentado captar pensamentos e sensações através destes. Estes foram os principais fios-condutores da série Observation. Estas pinturas são simples, mas tecnicamente a sua produção foi muito desafiante. As galerias utilizam diversas fontes de luz pelo que a forma como a luz incide sobre os visitantes faz com que exista uma reduzida variação tonal. Assim, as subtilezas da cor tornam-se muito mais importantes, o que dificulta as pequenas variações nos tons escuros e nas luzes.
Em termos temáticos, trata-se de uma observação da subjetividade: as reações de pessoas diferentes a uma mesma coisa. No dia a dia, movimentamo-nos rapidamente, e perdemos muita coisa. As nossas mentes estão repletas de pensamentos e de distrações. Nas galerias ou museus com os contrastes temos tendência a deixar-nos abrandar e assim as nossas atenções centram-se num único objeto. Acho que com uma atenção mais focada comunicamos mais através da linguagem corporal sobre a forma como vivenciamos a arte.
Obviamente, existem sempre distrações ao dobrar da esquina: os nossos telemóveis, a obra de arte seguinte, a pessoa que acaba de entrar na sala... Os níveis de interesse também variam muito. Algumas pessoas aborrecem-se muito rapidamente, enquanto outras se deixam envolver por cada peça durante alguns minutos. Assim, é esta extraordinária variedade de reações que tento captar nos meus sujeitos, muitas vezes observando-os por detrás.
As obras encontra-se todas bloqueadas com uma única cor, porque esta série não é sobre imagens em paredes; é sobre as experiências dos observadores da arte e a forma como estas variam.
Matt Lambert - Observing #6
O próximo leilão tem por base uma exposição em Brighton, Reino Unido, pode falar um pouco mais sobre esta viragem na noção tradicional de exposição?
Esta solução revelou-se no passado um sucesso para mim. A minha exibição, KIND, foi a que maior sucesso teve até ao momento. Acho que o motivo foi a vertente viva do elemento leilão. Os observadores podem ver a obra fisicamente e depois procurar no leilão da Catawiki e fazer uma licitação. O facto de as obras estarem em leilão era um verdadeiro desbloqueador de conversas?.
Em fevereiro deste ano deu uma conferência TEDx, como foi a experiência?
Foi um verdadeiro desafio! Fui, inicialmente, contactado pela University of East Anglia para dar a conferência depois de terem lido sobre mim num artigo no jornal britânico, The Telegraph. O tema era artistas britânicos que vendem as suas próprias obras através da Catawiki e o artigo tinha o título "Five British Artists Worth investing in". O objetivo da TED é que os oradores comuniquem uma única ideia que merece destaque. Utilizei-o como ponto de partida para explicar a relação entre mim e as minhas lutas com a saúde mental, a organização de caridade que criei e que se chama “Pass It On Africa” e a minha obra. Na verdade, isto revelou-se bastante catártico para mim. Pensar atentamente no processo para elaborar um discurso de 18 minutos, que se espera alguém ache que vale a pena ouvir, faz com que realmente pensemos cuidadosamente no que conduz as nossas ideias. Acho que as novas direções do meu trabalho são fruto deste processo.
Pode assistir à TED Talk do Matt aqui.
Matt Lambert - Don't be so sure that the monster isn't you
O que podemos esperar ver na exposição?
Esta é a maior coleção de arte que criei. Na altura da escrita deste artigo, mais ou menos uma semana antes da exposição arrancar, continuo a produzir peças diariamente. No total, haverá 26 peças totalmente originais. Terei também um novo livro de obras que inclui obras selecionadas para venda, lotes com impressões de edição limitada e pequenos desenhos a lápis, por isso existe algo para todos.
Tem alguma obra favorita que irá fazer parte deste próximo leilão?
Observing #7. Esta é uma das peças que marca um ponto de viragem. Estas não são frequentes para a maioria dos artistas, julgo que deve surgir, aproximadamente, uma por ano, se tivermos sorte, e quando surge temos de estar preparados. Tal como a maioria, foi um desafio e envolveu uma série de erros que deu lugar a uma nova estética. Estou a gostar realmente da integração de elementos juntamente com a utilização da pintura e a sugestão do espaço que estas figuras ocupam em vez da sua fiel descrição. Julgo que marca a direção futura do meu trabalho.
Matt Lambert - Observing #7
Gostaria de partilhar algo mais com os nossos leitores?
A exposição decorre de sábado, 25 de agosto, a domingo, 2 de setembro, das 10h00 às 15h00 na Fishing Quarter Gallery, na marginal de Brighton. Estão todos convidados para a observação privada no sábado, dia 25, pela 18h.
____________________
Pode visitar o leilão arte de Matt Lambert de 24 de agosto a 3 de setembro.
Descubra mais pinturas | arte urbana | arte moderna
Também poderá gostar destes artigos: